Não tive hipótese de dizer-te adeus convenientemente...
Não tive tempo (apesar do muito tempo que estivemos juntos), de dizer-te que ia sentir a falta dos nossos piqueniques, dos nossos passeios de comboio e das descobertas de sítios secretos só nossos em cada sítio que passávamos...
Lembro-me como se fosse hoje do esconderijo na estação de comboio de S. J. da Madeira, e da casa assombrada, que mais não era que a casa da tua mãe, que há anos estava vazia... mas eu era uma criança com uma imaginação fértil... e tu sabias, e cultivavas as histórias na minha imaginação, para que eu a desenvolvesse cada vez mais...
Lembro-me como se fosse hoje das chicletes no bolso, que até aos últimos dias nos oferecias, das histórias que contavas, e nas quais acreditava, nas canções que cantavas, que me faziam chorar e rir, dos poemas que escrevias e que, com tanto orgulho, me lias.
E lembro também os últimos tempos, da cabeça confusa, da recusa em comer, das dificuldades em respirar sem máscara de oxigénio... e penso que talvez tenha sido melhor assim, mas a mim custa-me deixar-te ir embota, Costinha, e pensar que nunca mais haverá a piqueniques no Marquês, viagens de comboio ou aventuras em casas abandonadas.
E custa-me pensar-te ali, deitado, quieto (coisa que nunca foste).
Por isso não te quis ver hoje... para mim serás sempre o companheiro de aventuras que não parava, que viajava de autocarro em autocarro, de comboio em comboio, só para que os netos sonhassem mais um pouco com histórias de encantar. O avô que nunca deixou que o chamasse de avô, porque avós são os velhos, e, por issso, foi, é e será, o Costa, ou Costinha, para todos os netos...
Espero que compreendas que não poderia ver-te parado, inerte, quieto...
Quero que saibas que amanhã me despeço do teu corpo, mas tudo o que me ensinaste a sonhar estará comigo, para sempre... e que sou o que sou, em grande parte, graças aos sonhos que cultivaste em mim... dentro de mim estará sempre um bocadinho de ti...
Adeus Costa, até todos os dias, todas as horas, todos os sonhos...
Um beijinho desta tua neta que nunca te esquecerá!
sexta-feira, outubro 08, 2010
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